novembro 28, 2007

Com a Palavra...



Valéria (16 anos), uma adolescente da cidade de Manari - Sertão de Pernambuco- ( uma das mais pobres do País)


...aqui a gente, na maioria das vezes, num tem nem chance de sonhar...

"Minha terra por ventura, merece tal descrição,
lá a vida é menos dura, qualquer um lhe estende a mão.
O céu é menos cinzento, lá não tem poluição,
Só existe um argumento que me parte o coração
ver o povo madrugar, e seguir para o roçado.
Mas se a chuva não chegar, perde o que se for plantado.
Eu agora exilada, só me resta descrever
Aqui não encontro nada, que motive a viver
Mas falar da minha terra;
Ah isso me dá prazer,
E mesmo aqui tão distante, tenho algo pra pedir,
Quero agora, nesse instante
Voltar para Manari
Pois eu não quero morrer
Sem de lá me despedir."


"Eu poderia ser uma adolescente normal, se não tivesse uma família formada por onze pessoas.
Eu deveria ter sido uma criança normal, se não fosse as responsabilidades que eu cumpria.
Eu deveria gostar do que faço, se não fosse obrigada a fazer.
Eu deveria frequentar ambientes de lazer, se não tivesse que trabalhar.
Eu deveria reclamar quando dizem algo que não gosto.
Se não tivesse inspiração para descrever cada situação.
Eu poderia reivindicar, quando sou julgada injustamente, mas calo-me e a humildade prevalece.
Eu deveria ter uma péssima impressão da vida, se não fosse a paixão que tenho pela arte de viver."


Ouvi (vi, senti) essas palavras do primeiro texto acima no filme Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim, reproduzo aqui por ter me feito pensar em como deve ter sido difícil para essa garota, apesar de toda restrição, elaborar e escrever este poema fazendo uma intertextualidade, baseada no poema Canção do Exílio de Gonçalves Dias.

Veja o Trailler do Filme.

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