agosto 16, 2008

Com a proximidade do Dia dos Pais (neste ano), e também todas essas datas comemorativas que envolvem pessoas, e portanto, afeto, pude observar e constatar uma super exposição à dor e à regressão, no sentido mais objetivo mesmo da palavra.
Retorna muita gente, a um tempo, mais ou menos distante, onde acham/achavam que eram felizes pela simples presença física das pessoas a quem amam/amavam.
Muitas dessas pessoas, expostas ou não a perdas recentes dessas figuras, quase sempre parentais, a que estas datas comemorativas remontam, parecem se esquecer de que a presença física nem sempre é sinônimo de convivência, relacionamento próximo e afetivamente falando muito bom. Na realidade, o que parecem (re) viver, é que ao invés de sentirem saudade, apelam para um saudosismo inóspito e insipiente, com o objetivo (nem sempre consciente, é claro), de fazer de conta que no passado, com a presença física da pessoa em questão, não houve tristeza, discórdia, atrito, frustração, ou mesmo qualquer tipo de mau estar, o que sabe-se que não é a verdade.

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A perda de um ente querido (quase) sempre significa dor, possibilidade da perda do afeto e da presença física ligada a ele, que ocorre na criança bem pequena, não no adulto bem estruturado.
De nada ou muito pouco significa um pai para um filho que não se lembre de o ter visto, ouvido falar, conversar, brigar, abraçar, beijar o tudo o mais que a função de um pai representa.
Sem contar a questão financeira de suprir as necessidades do filho e que muitas vezes está ligada à responsabilidade social e penal, além da emocional que os pais tem formalmente por eles.
A presença física do pai, por exemplo, também e principalmente significa educar e por isso mesmo ter que negar muitas vezes o que o filho deseja, frustrar, impor disciplina, obediência, respeito às regras e à convivência humana.
Isso tudo com o objetivo de propiciar ao filho, condições de sobreviver sozinho, nesse vasto mundo e podendo portanto, construir seu próprio futuro, apesar da ausência dele.
A vivência dessa perda ocorre muito antes da perda física que a morte representa, e precisa estar bem estabelecida para que o sofrimento seja menor quando ocorrer de verdade.
Saudade, como entendo, é sentir falta da voz, da palavra, da companhia, dos momentos partilhados nesse processo de aprendizagem e educação por que passamos perto dos pais, mas saber intima e concretamente que se pode viver, pois se experimentou isso, sem a presença física deles.
Saudosismo, a meu ver é regredir, a esse tempo em que o não não existia, em que tudo era tentativa de prazer e a frustração não podia fazer parte... por isso mesmo,está muito distante do que nos tornamos depois e porque essa função paternal foi exercida, ou seja, pra nos preparar para morte real.
Senti falta de meu pai, mas também lembrei que ele está em mim, no que sou, no que digo à minha filha e no que vivo dia a dia.
O meu primeiro Dia dos Pais sem a presença física dele foi como ele imaginou e desejou, acredito, quando me viu crescer, e fazer acontecer minha própria vida, coisa que tenho certeza, muito o alegrou um dia, e o mesmo (quero crer) se repetiu hoje, onde quer que ele esteja.

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